quarta-feira, 20 de junho de 2018

Crianças são proibidas de participar da festa junina e professores tentam se posicionar



 Por Rogério Trindade/ DA REPORTAGEM

Imagem: Educajar


                                                                                       
Todos os anos em Alto Araguaia (MT) na época em que acontece a festa junina, celebrada entre 19 e 25 de junho, muitas crianças não participam do evento cultural por fazer parte de algum segmento religioso e, são proibidas de se envolver.

Em alguns casos, é solicitado pelos pais através de bilhetes ou contato direto com o professor que se a criança desobedecer ou insistir em participar, sejam avisados imediatamente. Para os pequeninos é tudo uma brincadeira e uma grande diversão, mesmo instruídos eles ainda não entendem o porquê não podem fazer parte. A música, a dança, as bandeirolas e todo o clima alegre influencia e prende a atenção das crianças que recorrem aos professores em busca de uma solução na esperança de que o educador consiga a permissão dos pais. As que são submetidas a disciplina mais rígida não perdem tempo em busca de solução, o máximo que fazem é pedir ao professor que as deixem ver os ensaios.
Segundo a pedagoga da educação infantil I da Escola Maria Julia, Claudia Campos David da silva de 46 anos, que atua na Rede Municipal a 27 anos, é difícil ver o sofrimento dos pequenos inocentes e que não é fácil convence-los de um não. “Toda vez que tem festa junina eu já sofro adiantado e eles ficam loucos para dançar, inclusive nas horas de ensaio tem uns que eu pego... acabo vendo eles dançando, porque eles não têm essa compreensão. Eles choram e querem porque querem e eu falo: ‘mamãe não deixou, por causa da sua Igreja, não vai poder a mamãe não autorizou’, mas é muito complicado, eles não entendem, eles continuam insistindo que querem e que a mamãe vai deixar ”diz professora. 

Claudia ainda afirma que respeita, apesar da escola ser laica e não poder pregar religião o evento não passa de uma brincadeira e que participar da festinha não seria um problema, dentro das condições e a opinião de cada um.
professora da Escola Maria Julia  Arquivo Pessoal



Para a professora da turminha do quarto ano da Escola Estadual Arlinda Pessoa Morbeck, Vanda Vieira da Silva de 44 anos, formada em Letras e pedagogia, e também para a professora Mistael Alves Farias da turminha do segundo ano, de 37 anos da mesma escola, formada em Pedagogia e pós-graduada em psicopedagogia, alegam que primeiramente vem o respeito pelas decisões dos pais das crianças e que pela turma ter muito mais tempo como estudantes já estão acostumadas com a ideia de que não podem participar, conforme vão passando de serie e crescendo, mais maduros elas ficam e vão compreendendo “os porquês” e os “não” da família sem precisar que elas interfiram ou explique. "Eu respeito, porque eles entendem assim: que o pai já vem com essa... eles já estão no quarto ano, então teve pré, primeiro ano, segundo ano. Então eles já tem, intrinsecamente que não podem participar devido as leis da religião de cada um. Procuro tá respeitando isso e explicando pra eles que é uma manifestação cultural que umas pessoas consideram e outras não" Explica vanda. 
" Eles entendem apesar que são pequenos. ' minha mãe não deixa, minha mãe nunca deixou', então a gente respeita. Na hora do ensaio eu não fui ajudar a ensaiar, fiquei com eles e eles ficam loucos para dançar" conta a professora Mistael. 
Professora Vanda  Foto: Rogério Trindade
Professora Mistael Foto: Rogério Trindade

Através das brincadeiras, do contato e das interações a criança se desenvolve com mais facilidade. Quando juntas, é possível perceber que elas entram em um outro mundo e apropriam-se de uma nova linguagem. Compartilham entre si por meio da socialização novos saberes e sempre voltam para casa com uma novidade, constroem sua identidade da maneira adequada e saudável.  A mãe do Marcos Vinícius de 10 anos, Alessandra Rodrigues dos Santos de 35 anos, vendedora e evangélica, diz que nunca proibiu o filho de participar dos eventos da Escola devido as cobranças dos amiguinhos. " Pelo meu ter dez anos eu nunca proibi ele, e eu sou evangélica. Eu nunca proibi porque os amigos dele cobram muito dele. ' Ah marcos você vai dançar?' ai ele pergunta pra mim o que eu acho e eu não proíbo" explica a Alessandra.
Mãe do Vinicius Foto: Rogério Trindade 

A complexidade de uma religião nem sempre permite que a mesma seja discutida, algumas práticas são vistas por uma religião como algo que pode influenciar o desvio da crença e que para outras religiões não querem dizer nada. Ambas apontam para o mesmo caminho, bondade, salvação, paz interior e comunhão com o próximo. De acordo com a Ministra da El Carestia de Santa Rita do Araguaia (GO), participante do pastoral do dizimo, do batismo e da catequese e também coordenadora dos ministros, Neide Mariane de Freitas Silva de 42 anos, afirma que suas filhas sempre participaram das festas Juninas e o que realmente importa é a santidade que tem na alegria, todo envolvimento depende do sentir e do respeito. “ A dança da quadrilha irá depender da minha escolha, meu coração, se eu vou dançar com respeito ali a santidade, ali a presença de Deus” diz a Ministra.
A aposentada, Representante da El carestia e também Ministra, Laide Petinari de Carvalho de 73 anos se opôs a dizer que a Igreja católica apoia a festa Junina e que a quadrilha é saudável, principalmente para as crianças pois tudo é cheio de alegria e muita diversão. “ A quadrilha a gente ver uma festa de São João, uma alegria, uma participação né? Eu falo que é muito importante para a criança ter contato, partilhar das festas, principalmente das festas sadias como a quadrilha, porque a quadrilha é uma festa sadia e sempre minhas filhas participaram e a gente sempre colaborava” afirma a aposentada.
Ministras da El Carestia Foto: Rogério Trindade

Algo que preocupa muito os pais e os deixam confusos as vezes é a alteração na vida psicológica da criança. A festa de São João acontece uma vez no ano e não deixar que participem do evento não afeta de nenhuma maneira a vida dos estudantes infantis. Segundo a Psicopedagoga clínica, Supervisora, orientadora e didática, Élida Maria de Moraes, 67 anos, que atende na Escola Municipal Adalcy da Conceição Rodrigues e em mais duas escolas de Alto Araguaia, afirma que todo pai e toda mãe deve ter um amplo conhecimento da religião que segue para que a mesma possa assegura-los e saber colocar na linguagem em que a criança entenda, sendo assim, a criança ira saber perfeitamente o que pode e o que não pode e o porquê. “ Você quando trabalha com uma criança, você tem que trabalhar até que ela entenda, porque dentro da pouca idade que ela tem, usando de linguagem adequada para a idade dela para que ela possa ter um entendimento e venha a aceitar. Porque diferente de eu crer e aceitar, por isso que é necessário, o conhecimento” diz Élida.
Psicopedagoga Clinica Élida Foto: Rogério Trindade


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