Professores
decidem não aderir à greve. Alguns alunos concordam com a posição, outros
acadêmicos taxam os professores de “covardes” e “medrosos”.
Por Ademilson Lopes
“Professores da
Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) em greve!” Isso é o que anunciou
a Associação dos Docentes da Unemat (Adunemat), na segunda-feira (01). No
campus de Alto Araguaia, os educadores recuaram e decidiram não aderir à greve
e continuar com as aulas normalmente. O mesmo aconteceu semanas antes quando a
classe divulgou, no dia 25 de maio, uma paralisação.
Nessa posição, os professores receberam apoio
de alguns alunos, que dizem entender a situação delicada que reflete o momento
e a realidade do campus. Porém, outros acadêmicos taxam os professores de
“covardes” e “medrosos”. “Ensinam em sala de aula o que não fazem na prática”,
desabafa o estudante do 4° semestre de jornalismo, Felipe Garrido, de 21
anos.
Entenda
o caso
No dia 27 de maio, vinte e dois
professores dos três cursos (Letras, Ciência da Computação e Jornalismo) do
campus da Unemat em Alto Araguaia, se reuniram para deliberar se iriam aderir à
paralisação de advertência sugerido pela Adunemat. Duas propostas foram
colocadas em pauta: paralisar as atividades educacionais de quarta à
sexta-feira (29); ou continuar com as aulas normalmente sem paralisação e aguardar
os desdobramentos futuros. Após um caloroso debate, a segunda proposta venceu a
primeira por 11 votos a nove; dois professores se abstiveram de votar.
O idealizador da primeira proposta e professor
do curso de Jornalismo, Gibran Luiz Lachowski, acabou como voto vencido na
reunião e acredita que a paralisação, ao longo daquela semana, poderia ter
evitado a greve deflagrada pela Adunemat. “A paralisação de advertência de quarta
à sexta teve apoio de uma parte de professores, sobretudo de jornalismo, no
sentido de fortalecer o movimento dos docentes para que não houvesse greve, porque
ninguém quer greve. Só que a maneira correta de não fazê-la seria paralisar
para pressionar”, esclarece.
Já na segunda-feira (01) os docentes de
jornalismo e de computação se reuniram separadamente com os seus pares, e os
dois grupos decidiram não aderir à greve e seguir com o calendário normal de
aulas. Os professores de letras foram os únicos que não se reuniram para
decidir sobre a greve. Segundo o professor Milton Chicalé Correia, lotado no curso,
já havia um consenso entre os seus colegas contra a greve e por essa razão
dispensou-se qualquer encontro para debater o tema.
Para alguns professores – contra e a favor
da greve -, o apoio do Sintep é fundamental para os rumos das negociações da
Adunemat. Conforme esses docentes explicam, se os professores da rede estadual
básica de ensino não paralisarem, a greve na Unemat vai ficar sem força. “Eu
acho que vale o bom senso. O principal sindicato do Estado, que é o Sintep (Sindicato
dos Trabalhadores do Ensino Público), tem de 12 a 15 mil sindicalizados.
Enquanto ele não entrar em greve, o resto não faz volume. O Estado realmente
não tem dinheiro para pagar o reajuste. Nós temos todo o direito de fazer
greve, mas o governador agora tem todo o direito de não pagar”, pontua Max
Robert Marinho, 35 anos, lotado no curso de computação. Marinho diz ainda que a
pauta de reinvindicações feitas pela Adunemat não justifica a interrupção das
aulas. O docente é contra a greve.
Por outro lado, os professores de
jornalismo em Alto Araguaia foram os únicos que se reuniram com os alunos do
curso para dar esclarecimentos em torno da greve. A assembleia aconteceu na
última segunda-feira (01), no período de aula, às 20h. Os educadores de letras
e computação não dialogaram ainda com a classe estudantil por meio de um evento
semelhante.
“Nenhum outro curso aqui do campus fez
essa socialização (reunião com os estudantes). Para eles parece que as coisas
simplesmente continuam. Para nós de comunicação, não. A gente não aderiu nesse
momento, mas nos mostramos profundamente tocados e mexidos com a situação
(greve). Uma parcela de professores está sedenta para fazer mobilização (greve)
e eu acho que vale a pena”, comenta Lachowsky.
Entre os principais argumentos, está a
fragilidade política do campus de Alto Araguaia para entrar em confronto com o
Governo e com a direção da Unemat, por falta de engajamento.
Campus de Alto Araguaia (Foto: Marcos Cardial) |
“Suposta”
fragilidade do campus de Alto Araguaia
De maneira geral, no âmbito dos três
cursos em Alto Araguaia, os professores que são contra a greve argumentam que,
por ser um campus pequeno, detentor de um número reduzido de alunos, distante
dos centros de decisão e relativamente novo, não vale a pena arriscar. Eles ressaltam
que um movimento grevista poderia comprometer o futuro da instituição na cidade,
temendo represálias e boicotes por parte do Governo e da direção, em Cáceres, o
que poderia afetar até investimentos no campus local.
“Olha, a Unemat em Alto Araguaia, ainda
mais depois de tanta represália que a gente toma da sede, acho que não é o
momento para querermos entrar em greve agora não”, defende Marinho.
No entanto, para o acadêmico Felipe
Garrido, esse medo demonstrado pelos professores representa um ato de covardia.
“Eu não concordo com esse posicionamento. Existem outros campi mais jovens do
que o de Alto Araguaia em greve. Nós temos o campus de Pontes e Lacerda que
começou com apenas um curso aderindo e a greve se estendeu para os outros
cursos, porque os universitários decidiram paralisar. Os professores têm
posicionamentos particulares para não aderir à greve e os que são favoráveis
estão sendo pressionados por quem é contra. Eu como futuro jornalista me sinto
decepcionado por eles (professores)”, conta.
Para a universitária do 3° semestre de
Jornalismo, Robilainy Rodrigues Lima, 24 anos, a atitude dos professores é
justificável. “Eu concordo com os professores. Existem outras situações que
devem ser levadas em consideração. Aderir à greve no momento não seria
conveniente nem para os professores na situação em que eles se encontram e nem
para nós, acadêmicos; pelo menos não para mim, por conta do atraso no calendário
de aulas”, comenta.
Em Computação, Marinho conta que o calendário
de aulas termina em duas semanas para todos os alunos do curso, finalizando o
semestre. Por isso, ele defende que uma paralisação imediata, além de
prejudicar os universitários, não trará efeito positivo para as reinvindicações
da pauta grevista.
Cartaz de manifestação em Cuiabá/MT. (Fonte: Facebook/Adunemat) |
Principal
reivindicação: recomposição inflacionária
O foco central que a Associação dos
Docentes da Unemat (Adunemat) lutam, se refere a recomposição inflacionária de
6,22% - a incidir sobre o salário dos docentes -, alusivo à Revisão Geral Anual
(RGA). Esse valor serve para evitar que os professores percam o poder de
compra. Isto é, se os preços sobem com a inflação, a remuneração dos educadores
deve aumentar no mesmo percentual, impedindo a desvalorização dos salários.
Por outro lado, o Governo do Estado pagou
a metade do reajuste (3,11%) no final do mês passado e fez a proposta de que
quitaria os outros 3,11% no mês de novembro deste ano. Segundo o governador
Pedro Taques (PDT), se o reajuste integral for pago aos professores da Unemat,
o Poder Executivo vai descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
De acordo com a Lei invocada por Taques, o
Poder Executivo dos estados está impedido de usar mais de 49% da receita
corrente líquida para cobrir gastos com pessoal (despesas com funcionários
públicos, o que inclui o pagamento de salários). Conforme o governador, o
Estado já ultrapassou esse limite em 0,85% e por isso não tem condições de
atender à reivindicação dos professores da Unemat.
“Estamos fazendo a greve para cobrar um
direito nosso. É legal, mas o que o governo está propondo é abuso de poder. Não
aceitamos a proposta e vamos continuar com a greve e não temos data para
retomar as atividades. O governo é obrigado a pagar o que prometeu” comentou o
presidente da Adunemat, Leonir Amantino Boff.
Uma nova Assembleia
Geral Extraordinária da Adunemat está marcada para terça-feira (09), em
Cáceres-MT, às 14h. Consta no convite que o evento servirá para avaliar o
andamento da greve e decidir a sua continuidade.
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